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Final   
Novembro
Novembro começou com a ida da equipe do projeto para a Jornada da Praia Mansa, que fica na Baía dos Castelhanos.
A comunidade é formada por um único tronco familiar constituído por irmãos e agregados, que se uniram através de casamentos.
Participaram das oficinas alunos da Educação Infantil, Fundamental I e Fundamental II, além das merendeiras e professoras, que fizeram bonecos. Uma das professoras também participou da apresentação.
Na busca da narrativa a ser encenada, foi entrevistado Arlindo, um dos irmãos que faz parte dessa família. Ele contou a história do Cerco do Miranda. Miranda é um lugar, próximo da costeira. As costeiras têm nomes, elas são batizadas. E no Saco do Miranda, há muito tempo atrás, havia uma família de japoneses, que lá tinha o seu cerco. Hoje ele pertence ao Arlindo. Nesse período bem antigo, lá pelos anos 20, o japonês Kamati vivia no Saco do Sombrio, e muita gente morava e trabalhava junto com ele lá. Kamati foi o responsável pela introdução do cerco no Brasil, e o Saco do Sombrio se transformou numa referencia nessa técnica de pesca.
Segundo a história, um dos caiçaras que trabalhava no Saco do Eustáquio – de nome Chapéu - foi quem aprendeu a fazer o cerco. Kamati fazia mistério da construção da rede, ele não queria que os caiçaras vissem os pontos, por isso só trabalhava de noite. Só que Chapéu foi lá escondido e viu. Mais que isso, ele aprendeu tão bem que fez uma rede de cerco que pescava melhor que todas as outras.
Com o passar dos anos, ela foi sendo remendada muitas e muitas vezes, mas mesmo assim se mantinha perfeita, a ponto de ser considerada uma rede de cerco encantada. Até que um dia, uma baleia passou por ali e arrastou o cerco, destruindo tudo, e esse então foi o seu fim.
A história apresentada no fim da Jornada, além do cerco, falou também sobre um tema que estava sendo trabalhado com os alunos na escola: os piratas! Por isso, o nome da peça acabou ficando “Baía de Castelhanos – O tesouro dos piratas e o cerco encantado”.
É fácil encontrar na região certos sinais que evidenciam a passagem dos piratas por lá: é só observar os olhos claros e os cabelos loiros de muitos caiçaras....
No processo de pesquisa e filmagem, junto com Roberto, pai de uma aluna, a equipe foi visitar o cerco do Miranda.
Além dele e de Arlindo, também foi entrevistada na Praia Mansa a Angélica, uma líder comunitária muito importante.
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Mas além dessa Jornada, teve mais uma, dessa vez na Praia da Fome.
Participaram das oficinas 8 alunos, e duas merendeiras que são mães de alunos.
A Fome é uma das menores comunidades tradicionais, com apenas três famílias. Quem foi entrevistado foi Seu Dinho, Benedito Tenório, aposentado, mas que vez ou outra ainda pesca.
Foi ele que contou o causo que virou a peça apresentada pelos alunos da comunidade, e que se chamou “O peru de roda”.
A história é mais ou menos assim:
Tem um lugar no caminho para a Praia da Fome que se chama Codói, ele possui um vão entre duas rochas enormes que revela ao fundo uma vegetação bucólica, um gramado verdinho, coisa cinematográfica... É nesse lugar que o peru de roda espreitava as pessoas e as assustava com seu grugulejar, rodando e piscando suas luzes afrontando ferozmente quem passava por ali. A situação chegou a tal ponto que a comunidade apelou ao inspetor de quarteirão!
O dono dessa tarefa na Praia da Fome era o Nhão, e ele chamou todo mundo para conversar. Lá estava Dona Benedita, uma benzedeira, que alertou pra não mexerem com isso, com o sobrenatural; mas depois de muita falação eles resolveram cilar (espreitar) o peru. Nhão convocou para a tarefa os homens corajosos do lugar, e lá foram eles encarar o peru. Ao chegarem, ficaram agachados, só com a cabeça de fora e com o balaiozinho que tinham levado para capturar o peru. De repente eles ouvem um barulho e zapt....capturam! Só que não era o peru, era Dona Alice que estava passando por ali, e fica indignada com o desrespeito, reclama muito e depois vai embora. Eles não desanimam e voltam a esperar que o animal apareça. Passa um tempo e de repente eles vêm o bicho reluzente, piscando, girando e grugulejando bem alto....aí eles zapt de novo e capturam o peru em seu balaio!
O grupo sai correndo para chamar todo mundo, e todos vêm ver o peru, e enfim resolver tão complicada questão. Devagarinho eles vão abrindo o balaio, um pouquinho de cada vez, e Dona Dita testemunhando o grande momento.... Aí, quando tiram a tampa, cadê o peru? Não tem peru nenhum lá dentro.
Dona Dita então fala: “Eu não disse? Vocês estão pensando que vão capturar? Isso é coisa do outro mundo!”
Fazer o quê? Impressionados, todos vão embora para suas casas pensando no assunto.
Mas causos são assim, um emenda no outro, e no dia seguinte, as lavadeiras vão pra perto da cachoeira por conta de outra história contada por seu Dinho, sobre um galinho de ouro, que cantava três vezes ao meio dia, e também não se deixava pegar....
Só que essa história ficou pra outra vez.
O Projeto Memórias Reveladas tem o patrocínio de Petrobrás por meio do Programa Petrobras Socioambiental
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